Nem todo silêncio é ausência: quando amar é saber escutar

Amar é, às vezes, saber calar.
Não como quem se omite, mas como quem respeita o tempo do outro.
Nem todo silêncio é afastamento. Às vezes, é cuidado. Às vezes, é presença sem ruído.

Vivemos uma era barulhenta, em que se espera resposta imediata, opinião formada, disponibilidade constante. O amor, nesse cenário, sofre. Porque o amor não grita, ele escuta. E escutar de verdade é raro. Escutar não é apenas ouvir palavras — é estar inteiro diante do que o outro é, mesmo quando ele não diz nada.

Como psicóloga, vejo todos os dias como o silêncio assusta.
Relacionamentos adoecem porque confundimos silêncio com desinteresse, pausa com abandono, introspecção com rejeição. Mas nem sempre quem se cala está distante. Muitas vezes, está apenas tentando não se perder de si mesmo.

Há silêncios que carregam um grito abafado, é verdade. Mas há também silêncios que são cuidado: uma escolha por não ferir, por refletir antes de responder, por respeitar um espaço interno que ainda está em construção.

Saber amar é também saber escutar o que não foi dito.
É perceber o corpo do outro antes da fala. É acolher uma ausência momentânea sem preencher com julgamentos. É entender que o tempo emocional de alguém não precisa — nem deve — seguir o seu.

Relacionar-se não é ter o outro o tempo todo, mas saber permanecer mesmo quando ele se recolhe. Porque presença não é só toque. Presença também é respeito. É a confiança de que, mesmo em silêncio, ainda se está junto.

Na terapia, aprendemos que escutar é uma forma de amor.
Um amor que não quer consertar, mas compreender. Que não invade, mas acompanha. Que não exige respostas imediatas, mas oferece espaço para que o outro possa florescer no próprio ritmo.

Nem todo silêncio é ausência.
Às vezes, é a linguagem mais profunda que o amor consegue usar.
E talvez, no silêncio, o que o outro mais esteja dizendo é:
“Fica aqui comigo, mesmo que eu ainda não saiba como falar.”

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